Tuesday, February 07, 2006

A Tradução de Linguagens de Especialidade e de Terminologia

A tradução de linguagens de especialidade e de terminologia é uma questão bastante importante no âmbito da prática da tradução em geral.
Uma das principais características de um texto técnico é a utilização de linguagem de especialidade, isto é, a linguagem utilizada numa dada área que engloba tanto a terminologia como as formas de expressão específicas da área em questão. A linguagem de especialidade não se limita apenas à terminologia; ela inclui termos funcionais (que descrevem operações ou processos), e propriedades sintácticas e gramaticais; adere a convenções próprias, tais como evitar a voz passiva (na maior parte dos textos técnicos) e o uso de terminologia consistente. Todo este conceito é também apelidado de tecnolecto.
O conceito de terminologia é já mais restrito do que o de linguagem de especialidade, pois consiste num conjunto organizado de termos técnicos próprios de um determinado campo – uma ciência, uma arte, uma disciplina (cf. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa, 2001, Verbo). Terminologia pode ainda ser definida da seguinte forma:
(…) a base ontológica da terminologia consiste na delimitação dos conceitos produtivos de um campo específico, sendo certo que cada termo só pode definir-se como tal quando corresponde a um único conceito, por ele transmitido com concisão e precisão.
CNALP (1989: 179)
Na verdade, algo que acontece frequentemente na tradução é o facto de conhecermos as palavras (ou julgarmos que as conhecemos) mas desconhecermos o conceito a que estão associadas no texto pois este poderá variar com o contexto.
Na tradução técnica é raro (embora não seja impossível), haver casos de polissemia, pois abrange, por norma, um tipo de linguagem mais específica e objectiva. A tradução de termos técnicos é, frequentemente, independente do contexto em que estes surgem e, neste caso, estabelecer uma equivalência a nível terminológico não deverá oferecer nenhum tipo de dificuldade acrescentada.
No entanto, isto não significa que seja mais fácil para o tradutor técnico achar uma equivalência terminológica para o texto de partida. Muito pelo contrário, esta equivalência, a nível terminológico, pressupõe uma normalização terminológica, isto é, tanto na língua de partida como na língua de chegada há uma necessidade para a criação de uma compilação de termos de uma determinada área. A normalização de bases de dados terminológicas torna-se, porém, bastante difícil, pois a evolução linguística não consegue acompanhar o rápido avanço tecnológico e o português tem vindo, ao longo dos últimos tempos, a sofrer fortes, e até violentas, influências de estrangeirismos, especialmente de anglicismos.
Na verdade, há uma tendência generalizada para institucionalizar a terminologia técnica numa só língua de modo a facilitar a comunicação entre os profissionais de diversos países. Mas, se por um lado isso realmente acontece, por outro, tal empobrece a nossa língua com a agravante de se correr o risco de marginalizar os leitores que não estão familiarizados com o texto ou com a temática em causa.
A tradução de empréstimos poderá despoletar alguma controvérsia, uma vez que pode retirar toda a naturalidade e fluência a um texto. No entanto, essa falta de naturalidade e de fluência surge da falta de familiaridade com o termo traduzido. Um termo desconhecido pode parecer estranho e, assim sendo, é evitada a sua utilização. Tal acontece com termos tais como software, ou website. Só muito recentemente foi introduzido de forma regular no vocabulário português o termo sítio para designar website ou simplesmente site.
Assim, na minha opinião, torna-se imperativo que tradutores, terminólogos e especialistas em textos técnicos e científicos tomem iniciativas de recolha de informação terminológica nas várias áreas com vista a catalogar e normalizar bases de dados específicas da língua portuguesa, eliminando, sempre que possível, os empréstimos para que estes não passem a fazer parte do vocabulário português, mais por uma questão de habituação e até mesmo de negligência do que propriamente de necessidade.
Paula Carvalho

0 Comments:

Post a Comment

<< Home